"No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?"
Camões reflecte sobre a contradição entre aquilo que as pessoas sofrem no mar e que, em terra, são elas próprias a provocarem conflitos destruidores.
Então, Camões pergunta-se como é que os seres humanos ("bixo da terra tão pequeno") poderão encontrar um abrigo em segurança.
Estrofe 94
"Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.
Si; mas aquele Herói, que estima e ama
Com dons, mercês,. favores e honra tanta
A lira Mantuana, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe."
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.
Si; mas aquele Herói, que estima e ama
Com dons, mercês,. favores e honra tanta
A lira Mantuana, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe."
Vasco da Gama tenta provocar que as navegações feitas pelos Romanos e pelos Gregos não foram de modo algum superiores à sua viagem à Índia.
Estrofe 95
"Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira."
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira."
Estrofe 96
"Vai César, sojugando toda França,
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas , numa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança,
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira."
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas , numa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança,
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira."
César era uma grande militar mas era igualmente um grande escritor, caracterizado por trazer sempre numa mão a espada e na outra a pena com que escrevia.
Também Cipião ficou conhecido como militar e grande orador. Acrescentando que o imperador Alexandro tinha como livro de cabeceira a odisseia de Homero.
Nota: Ao apresentar os exemplos anteriormente referidos Camões compara-os consigo próprio para mostrar que os soldados Portugueses consideram que lhes basta serem bons militares para serem considerados heróis sem necessidade de serem homens cultos.
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