domingo, 12 de dezembro de 2010

Reflexões do poeta

Estrofe 106
"No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?"


Camões reflecte sobre a contradição entre aquilo que as pessoas sofrem no mar e que, em terra, são elas próprias a provocarem conflitos destruidores.
Então, Camões pergunta-se como é que os seres humanos ("bixo da terra tão pequeno") poderão encontrar um abrigo em segurança.
 
Estrofe 94
"Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.
Si; mas aquele Herói, que estima e ama
Com dons, mercês,. favores e honra tanta
A lira Mantuana, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe."
 
Vasco da Gama tenta provocar que as navegações feitas pelos Romanos e pelos Gregos não foram de modo algum superiores à sua viagem à Índia.
 
Estrofe 95
"Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira."
 

Estrofe 96
"Vai César, sojugando toda França,
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas , numa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança,
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira."
 
César era uma grande militar mas era igualmente um grande escritor, caracterizado por trazer sempre numa mão a espada e na outra a pena com que escrevia.
Também Cipião ficou conhecido como militar e grande orador. Acrescentando que o imperador Alexandro tinha como livro de cabeceira a odisseia de Homero.
 
Nota: Ao apresentar os exemplos anteriormente referidos Camões compara-os consigo próprio para mostrar que os soldados Portugueses consideram que lhes basta serem bons militares para serem considerados heróis sem necessidade de serem homens cultos.
 
 
Não dá Portugal heróis como os Romanos mas também não dá aos Portugueses os defeitos que esses heróis tinham.

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