"Vasco da Gama, o forte Capitão,
Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece,
Pêra se aqui deter não vê razão,
Que inabitada a terra lhe parece.
Por diante passar determinava,
Mas não lhe sucedeu como cuidava."
Júpiter responde a Vénus, dizendo-lhe para não se preocupar, porque os Portugueses não irão correr qualquer perigo e para ficar descansada porque ela é a pessoa mais importante para ele. Promete-lhe que os feitos dos Portugueses no Oriente irão fazer esquecer os dos romanos e gregos.
Estrofe 73
"Do claro Assento etéreo, o grão Tebano,
Que da paternal coxa foi nascido,
Olhando o ajuntamento Lusitano
Ao Mouro ser molesto e avorrecido,
No pensamento cuida um falso engano,
Com que seja de todo destruído;
E, enquanto isto só na alma imaginava,
Consigo estas palavras praticava:"
Que da paternal coxa foi nascido,
Olhando o ajuntamento Lusitano
Ao Mouro ser molesto e avorrecido,
No pensamento cuida um falso engano,
Com que seja de todo destruído;
E, enquanto isto só na alma imaginava,
Consigo estas palavras praticava:"
Os portugueses chegam a Melinde com os navios enfeitados com a bandeira e o estandarte e havia também música de tambores e pandeiros para se fazerem anunciar. Os portugueses estavam felizes.
Estrofe 74
"– «Está do Fado já determinado
Que tamanhas vitórias, tão famosas,
Hajam os Portugueses alcançado
Das Indianas gentes belicosas;
E eu só, filho do Padre sublimado,
Com tantas qualidades generosas,
Hei-de sofrer que o Fado favoreça
Outrem, por quem meu nome se escureça?"
Os Melindanos estão na praia para dar as boas-vindas aos Portugueses e desde logo se verifica que este povo é mais humano e verdadeiro que os anteriormente encontrados.
A frota desembarcou um mouro para prestar os cumprimentos ao Rei e para verificar se seriam bem recebidos.
Estrofe 75
"Assim que, ó Rei, se minha grã verdade
Tens por qual é, sincera e não dobrada,
Ajunta-me ao despacho brevidade,
Não me impeças o gosto da tornada.
E, se ainda te parece falsidade,
Cuida bem na razão que está provada,
Que com claro juízo pode ver-se,
Que fácil é a verdade de entender-se."
O rei refere que já conhece o valor dos portugueses e convida-os a sairem para se reabastecerem.
Estrofe 77
"Juntamente a cobiça do proveito,
Que espera do contrato Lusitano,
O faz obedecer e ter respeito
Com o Capitão, e não com o Mauro engano.
Enfim ao Gama manda que direitoAs naus se vá, e, seguro de algum dano,
Possa a terra mandar qualquer fazenda,
Que pela especiaria troque e venda."
Depois de ter recebido o convite do Rei de Melinde, Vasco da Gama manda-lhe um coral que já trazia preparado de Portugal para lhe oferecer.
Estrofe 78
"Que mande da fazenda, enfim, lhe manda,
Que nos Reinos Gangéticos faleça;
Se alguma traz idônea lá da banda
Donde a terra se acaba e o mar começa.
Já da real presença veneranda
Se parte o Capitão, para onde peça
Ao Catual, que dele tinha cargo,
Embarcação, que a sua está de largo."
Vasco da Gama envia um outro mensageiro que pudesse negociar as condições do desembarque dos Portugueses naquele local e pede desculpas por não o fazer pessoalmente.
Estrofes 79, 80, 81, 82
"Embarcação que o leve às naus lhe pede;
Mas o mau Regedor, que novos laços
Lhe maquinava, nada lhe concede,
Interpondo tardanças e embaraços.
Com ele parte ao cais, por que o arredeLonge quanto puder dos régios paços,
Onde, sem que seu Rei tenha notícia,
Faça o que lhe ensinar sua malícia."
80
"Lá bem longe lhe diz que lhe daria
Embarcação bastante em que partisse,
Ou que para a luz crástina do dia
Futuro sua partida diferisse.Já com tantas tardanças entendia
O Gama, que o Gentio consentisse
Na má tenção dos Mouros, torpe e fera,
O que dele atéli não entendera"
81
"Era este Catual um dos que estavam
Corruptos pela Maumetana gente,
O principal por quem se governavam
As cidades do Samorim potente.
Dele somente os Mouros esperavam
Efeito a seus enganos torpemente.Ele, que no conceito vil conspira,
De suas esperanças não delira."
82
"O Gama com instância lhe requere
Que o mande pôr nas naus, e não lhe vai;
E que assim lhe mandara, lhe refere,
O nobre sucessor de Perimal.
Por que razão lhe impede e lhe difere
A fazenda trazer de Portugal?
Pois aquilo que os Reis já têm mandado
Não pode ser por outrem derrogado." O mensageiro dirige-se ao Rei elogiando-o e dizendo-lhe que estão ali por precisarem de ajuda.
Estrofe 83
"Pouco obedece o Catual corrupto
A tais palavras; antes revolvendo
Na fantasia algum subtil e astuto
Engano diabólico e estupendo,
Ou como banhar possa o ferro bruto
No sangue avorrecido, estava vendo;Ou como as naus em fogo lhe abrasasse,
Por que nenhuma à pátria mais tornasse."
O mensageiro diz ao Rei que Vasco da Gama não sai do seu barco não por temer qualquer armadilha da parte dele, mas porque a isso o obrigava o seu Rei que lhe ordenara de nunca abandonar a frota.
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