Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
Comentário: Escolhi este poema porque gostei da maneira que Camões fala tão profundamente e com tantas certezas do que é o amor.
Quando me quer enganar
Quando me quer enganar
A minha bela perjura,Pera mais me confirmarO que quer certificar,Pelos seus olhos mo jura.Como meu contentamentoTodo se rege por eles,Imagina o pensamentoQue se faz agravo a elesNão crer tão grão juramento.Porém, como em casos taisAndo já visto e corrente,Sem outros certos sinais,Quanto me ela jura mais,Tanto mais cuido que mente.Então, vendo-lhe ofenderUns tais olhos como aqueles,Deixo-me antes tudo crer,Só pela não constrangerA jurar falso por eles. Luís de Camões Comentário: Camões neste poema fala como amada o quer enganar mas ao ver os olhos dela, faz com que todas as mentiras que ela diz passem em branco, gosto do poema por isso.Sempre a Razão vencida foi de Amor
Sempre a Razão vencida foi de Amor;Mas, porque assim o pedia o coração,Quis Amor ser vencido da Razão.Ora que caso pode haver maior! Novo modo de morte e nova dor!Estranheza de grande admiração,Que perde suas forças a afeição,Por que não perca a pena o seu rigor.Pois nunca houve fraqueza no querer,Mas antes muito mais se esforça assimUm contrário com outro por vencer.Mas a Razão, que a luta vence, enfim,Não creio que é Razão; mas há-de serInclinação que eu tenho contra mim. Luís de Camões Comentário: Este poema chamou-me a atenção porque acho que a razão vence sempre quer no amor ou noutra situação qualquer.
Verdes são os camposVerdes são os campos,De cor de limão:Assim são os olhosDo meu coração.Campo, que te estendesCom verdura bela;Ovelhas, que nelaVosso pasto tendes,De ervas vos mantendesQue traz o Verão,E eu das lembrançasDo meu coração.Gados que pasceisCom contentamento,Vosso mantimentoNão no entendereis;Isso que comeisNão são ervas, não:São graças dos olhosDo meu coração. Luís de CamõesComentário: Este poema suscitou em mim interesse pelo facto de Camões destacou os olhos da amada e de os comparar ao campo.
Descalça vai para a fonteDescalça vai para a fonteLianor pela verdura;Vai fermosa, e não segura.Leva na cabeça o pote,O testo nas mãos de prata,Cinta de fina escarlata,Sainho de chamelote;Traz a vasquinha de cote,Mais branca que a neve pura.Vai fermosa e não segura.Descobre a touca a garganta,Cabelos de ouro entrançadoFita de cor de encarnado,Tão linda que o mundo espanta.Chove nela graça tanta,Que dá graça à fermosura.Vai fermosa e não segura. Luís de CamõesComentário: Gostei deste poema porque Camões realça apesar de tudo o quanto era formosa a sua amada.
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